segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Aids no Vale do Aço

A cada três dias, uma pessoa é infectada com o vírus HIV

e o número continua crescendo

Num dia de atendimento aos soropositivos, uma senhora acabou de sair da sala do psicólogo, que orienta soropositivos e seus familiares. Era uma mulher que aparentava ter uns 63 anos. Tinha os cabelos grisalhos, usava roupas humildes e segurava uma bolsa pequena e simples. Ao sair daquela sala, esta senhora pisou na recepção do Gasp com os olhos inchados. “Quantos anos ele têm mesmo”, perguntou a secretária, que também se encontrava lá. “Meu filho têm 32 anos”, respondeu em lágrimas.

Naquele momento, o presidente da entidade saiu de sua sala e, entregou-lhe algumas passagens de ônibus municipais. “Obrigada, eu vou para o Hospital. Vou ficar do lado dele, até que tudo isto se acabe”, ressaltou a senhora. Ela olhou para o repórter de uma maneira que ele podia saber o que estava pensando. A senhora pegou em sua mão direita e disse solidariamente para que ficasse com Deus. Após sua saída, o repórter imaginou que ela achou, que ele era um soropositivo, porque estava sentado na recepção do Gasp, esperando o presidente para realizar a entrevista.

A história

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o primeiro caso de Aids no mundo foi em 1959, na África. Foi neste ano, que após a morte de um homem em Congo, detectou-se a presença do vírus HIV no organismo. Este exame foi realizado devido a deflagração da epidemia no país.

Nos anos 80, um fato historicamente novo se apresentou no mundo: a epidemia da Aids, e no final desta década, os primeiros casos foram diagnosticados no Vale do Aço. Como nesta década os medicamentos não tinham tanta eficácia como os que são usados em pacientes soropositivos, algumas destas pessoas infectadas pelo vírus, se uniram pelo desejo de continuarem vivendo, e criaram o Grupo de Apoio aos Soropositivos – (Gasp).

Este grupo é uma Organização Não Governamental (ONG), atende aos soropositivos do Vale do Aço. O Gasp é um grupo dedicado ao convívio com a existência do vírus HIV. Desenvolve ações de assistência as pessoas soropositivas e seus próximos, visando o combate aos preconceitos, a inclusão social e a busca por melhor qualidade de vida. Realizam também um trabalho de educação continuada em escolas, empresas, organizações sociais e grupos específicos, no sentido de prevenir a infecção pelo vírus HIV.

De acordo com Thiago Emiliano Garcia, presidente do Gasp, a doença atinge pessoas de todas as idades e classes sociais. Ele salienta que a maioria das pessoas que fazem parte do grupo de apoio, são da classe baixa. “A maioria das pessoas de classe média e alta, que foram contaminadas pelo vírus HIV, procuram tratamentos em outras cidades para não se exporem por medo do preconceito. Eles não querem aparecer, por terem medo de serem mandadas embora de seus empregos”, ressalta.

Ele explica que a partir do momento que a carga viral dos soropositivos, estejam com o número elevado, entra a medicação. “Se no exame acusar a presença do vírus, não significa que o soropositivo terá que usar os medicamentos”, acrescentou. O presidente aconselha a todos que foram infectados pelo vírus HIV a aderirem ao tratamento, por ser o único respaldo que as pessoas têm. “Os remédios têm efeitos colaterais, mas sem eles, o vírus pode destruir toda as células de defesa”, alerta.

Situação Alarmante

Mesmo com tantas campanhas de combate a Aids, divulgadas pela mídia e por vários grupos de apoio aos soropositivos, o número de casos aumentou no Vale do Aço. De acordo com o Ministério da Saúde, até dezembro de 2003, foram notificados 360 nesta região. Não é de hoje que este assunto rodeia este Vale, que além de ser o polo do Aço, está se tornando o polo da Educação e atraindo centenas de estudantes de todo o Brasil.

Ivanete Araújo de Souza, coordenadora do Programa DST/Aids em Timóteo, explica que este número aumentou porque as pessoas estão praticando sexo sem preservativos e, estão usando drogas injetáveis. Ela aconselha pessoas que têm um comportamento de risco, isto é, que estejam mantendo relações sexuais sem a camisinha, a fazerem o exame de três a seis meses após o ato sexual.

A coordenadora explica que este tempo é devido ao período de Janela Imonológica, que pode transmitir o vírus da Aids, como também pode não ser detectado pelo exame. “Pode dar um falso negativo”, diz.

O Ministério da Saúde - MS, informa que em Dezembro de 2003, foram notificados 257.780 casos no Brasil, sendo 185.061 homens e 72.719 mulheres. Nesta pesquisa, foi constatado que 86,2 % são infectadas através do ato sexual e 12,4% no uso de droga Injetável. Já nos homens, 58% aparecem com o vírus após a relação sexual, sendo 21,7% entre os homossexuais; 11,4% nos bissexuais e 25% entre os heterossexuais. No uso de drogas injetáveis 23,4% destes usuários pegaram o vírus.

Contaminação

Por medo do preconceito da sociedade, Ivanete Marcela Carvalho, usa este pseudônimo para falar como foi contaminada com o vírus. Aos 41 anos, ela luta contra a manifestação de doenças desde seus 30 anos, quando foi contaminada através do parceiro, em sua relação sexual. Seus familiares não sabem da sua condição de soropositivo. Ela resolveu não se abrir para não ser discriminada por ser portadora do vírus HIV. “Quando me descobri soropositivo, imaginava que não viria meus filhos crescidos, muito menos viveria para ver meus netos. Hoje tudo é diferente! Tenho netos”, destaca.

Ela ainda diz esperançosa que acredita que a medicina consiga a cura para este vírus. “Tenho trabalho, sou útil, e ajudo muito as outras pessoas com minha lição de vida”, ressalta. Ivanete acha excelente o apoio que o governo dá aos soropositivos. O que lhe deixa chateada é “o preconceito da sociedade por não saber realmente sobre o assunto” avalia.

Já o jovem de 26 anos, que usa pseudônimo de Carlos Alberto Goulart, prefere preservar sua identidade, por que acha que sociedade “têm muito preconceito, por falta de informação”, diz. Foi aos 24 anos de idade, que descobriu que foi infectado pelo vírus através de relação sexual. O rapaz acha que pode viver entre 15 e 20 anos sem manifestar nenhuma doença. “Têm pessoas que conheço, que nunca adoeceram e têm este perfil”, informa. Ele ainda diz que o apoio do governo deixa a desejar, devido a precariedade do sistema de saúde.

Após uma relação sexual desprotegida, há nove anos, Carmem Maria Silva, 31anos, escolheu este pseudônimo, para preservar sua identidade, pensando no grande preconceito da sociedade. A portadora do vírus, ainda diz que sua relação com os familiares não foi abalada. “Todos sabem da condição de ser soropositivo e não sofri preconceito nem discriminação dentro de casa”, informa. “Tenho uma força muito grande em viver, sou uma lutadora e depois que me descobri soropositivo, muitas coisas boas aconteceram na minha vida”, destaca. Carmem acha a sociedade “muito preconceituosa por medo do desconhecido, e por muita falta de informação”.

Discriminação

Publicado pelo jornal Diário do Aço, no dia 09/04/2004, a ipatinguense Cláudia Maria Silveira Mota, 31, entrou com uma ação no Juizado de Pequenas Causas de Ipatinga, contra Manoela Martins de Medeiros, proprietária da Academia Aquática, no bairro Jardim Panorama, porque foi orientada pela mulher a trocar as aulas de hidroginástica pela aeróbica.

Isto, porque outros alunos da academia estavam incomodados em participar das aulas na piscina, junto com uma soropositivo. Cláudia se sentiu discriminada. E disse a Manoela, que iria cobrar seus direitos. Para tentar contornar a situação, a proprietária da academia procurou Cláudia e disse que ela poderia frequentar as aulas de hidroginástica no quadro de alunos especiais como diabéticos, idosos e grávidas.

Sugestão novamente recusada e considerada uma discriminação. Cláudia, com o apoio do Gasp, acionou a justiça. “Não estou preocupada com dinheiro, estou brigando não só por mim, mas por outras pessoas que podem passar pela mesma situação”, explicou.

Mistério

O presidente do Gasp informou que um casal do Vale do Aço, (ele não revela a cidade e nem o sexo da criança para evitar o preconceito, visto que o filho de aproxima da idade estudantil) teve um filho. Este casal não é soropositivo. Só que o bebê nasceu num hospital em Belo Horizonte, com o vírus HIV. Diante deste fato, eles fizeram outro exame para verem se eram soropositivos e o resultado novamente deu negativo.

Após fazerem outro exame no filho, constataram que a criança estava com com o vírus da Aids. Desconfiados de que o bebê foi trocado na maternidade, eles fizeram um exame de paternidade, e constataram que filho é mesmo do casal. O que os deixam intrigados, é saber como o bebê nasceu com o vírus, sendo que após o nascimento, os pais afirmam que a criança não teve mãe de leite e não sofreu abuso sexual. Diante deste fato, o casal está processando o Hospital da capital mineira.

Alerta

Irisnett de Souza Andrade, coordenadora do Programa DST/ Aids em Ipatinga informa que a Aids não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas, depende de cada organismo, além disso, os sintomas podem demorar até dez anos para aparecerem. “Não adianta ficar esperando por um sintoma da Aids para fazer o teste” ressalva. Na sua opinião, o melhor é ficar sabendo se tem ou não o HIV e não abrir mão da camisinha e nem compartilhar agulhas e seringas.

A coordenadora diz que se o resultado do exame for positivo, a equipe de aconselhamento do posto de saúde estará dando assistência psicológica, médica, nutricionista e farmacêutica ao paciente.

O Programa DST/ Aids é realizado pelo Ministério da Saúde. Em Ipatinga, a assistência aos soropositivos é na Unidade de Saúde da Cidade Nobre – UISA, na Av. Monteiro Lobato, 816, bairro Cidade Nobre. Tel. (31) 3846-7714.

Em Cel. Fabriciano, a assistência é no Posto de Saúde Santa Terezinha, Rua 21, s/n – Santa Terezinha; tel. (31) 3846-7714 e em Timóteo, no Centro de Especialidades, rua Ana Moura, s/n, bairro Timotinho. Fone (31) 3847-7624.

O Gasp funciona de segunda á sexta-feira, na Av. José Júlio Da Costa, 1.240, no bairro Iguaçu, em Ipatinga.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O preço da vida




O preço da vida” é uma obra de ficção, onde o personagem central é o jovem Eduardo, fruto de um tumultuado relacionamento entre Marcos e Flávia. Bastardo, Eduardo é abandonado na porta de uma casa e criado como filho por Fátima e Edson, um casal pobre, humilde e honesto. No meio de tantas adversidades e desafios, o rapaz cresce ao lado de duas irmãs sem saber que foi adotado. A verdade sobre seu nascimento afetará a vida de todos os personagens do romance. Eduardo se apaixona por Aline, uma bela jovem que o acompanha em todos os momentos decisivos. Inspirado no cotidiano, a história se passa em três cidades fictícias. Crimes misteriosos dão a esta narrativa um fôlego envolvente e emocionante, deixando todos os personagens suspeitos. No final, o leitor se surpreenderá ao descobrir a razão e a identidade do assassino.

Meu Livro está publicado e disponível no site abaixo

http://www.saramandaia.com.br/o-preco-da-vida-autor-thiago-fabiano-editora-saramandaia.html

Um pouco do livro:

Capitulo 1

Marcos e Flávia se conheceram numa grande festa da alta sociedade de Boa Vista. Ele tinha dezenove anos. Era um jovem formoso. Ela acabava de completar dezoito anos. Era uma linda morena que chamava a atenção por onde passava. A festa acontecia no clube, ao luar. A lua estava cheia. Marcos estava caminhando pelo jardim do clube quando a avistou apreciando a lua. Ele se aproximou dela e disse-lhe:

__A lua está linda.

__Está maravilhosa. - respondeu-lhe sorrindo.

__Prazer, eu me chamo Marcos.

__Eu me chamo Flávia.

__Você é tão linda!

Ele não disse mais do que isso e lhe deu um beijo na boca.

__Mas você é rápido! - exclamou Flávia, gostando do beijo.

__Desculpe-me, eu não me contive. Esse seu rosto, esse seu corpo, você é tão linda!

Os dois continuaram se beijando e, depois fugiram da festa e ficaram namorando no estacionamento do clube, durante o resto da noite.

Foi ficando tarde...

__Quando nos veremos novamente? - indagou Flávia.

__Eu vou lhe dar o número de meu telefone e você liga para mim amanhã.

Flávia ligou para a casa de Marcos no dia seguinte. Eles se encontraram e então, decidiram namorar. Marcos era filho de Natália Pereira Costa com o poderoso Marcelo Souza Costa, donos de uma indústria automobilística. Flávia era filha do empresário José Gomes e de Teresa Sales Gomes, donos de uma indústria de tecidos.

Marcos e Flávia estavam namorando, mas sem que suas famílias soubessem. Eles decidiram não namorar em casa. Por serem de famílias ricas e tradicionais temiam que seus pais fizessem o namoro se transformar num acontecimento.

Eles estavam apaixonados, se encontravam todos os dias, até que, um dia, descobriram o amor físico... E começaram a se encontrar às escondidas para namorar e fazer amor. Mas mesmo apaixonado por Flávia, Marcos dava algumas escapadas. Era infiel. Ele freqüentava o clube.

Certo dia, Marcos estava nadando na piscina e resolveu tomar um refresco no bar. Ao chegar lá deu de cara com uma linda jovem. Ele se interessou por ela e foi logo se apresentando:

__Eu me chamo Marcos. E você?

__Camila.

__Você é nova por aqui, não é?

__Sou sim. Perdi os meus pais num terrível acidente e tive que vir morar aqui em Boa Vista, com os meus tios.

__Você morava aonde?

__Em Belo Horizonte.

Camila havia chegado à cidade á poucos dias. Ela havia perdido os pais num acidente de automóvel e acabou tendo que morar com os tios. Tinha dezessete anos quando esta fatalidade lhe aconteceu.

Mesmo apaixonado por Flávia, Marcos era infiel. Antes de conhecê-la, todas as suas namoradas sofreram a seu lado. Quando estavam apaixonadas, descobriam das escapadas que ele dava e isto finalizava suas relações amorosas. Ele tinha esta postura com as mulheres que passavam por sua jovem e inexperiente vida, por achar que era o melhor partido da cidade e por ser filho de um dos homens mais ricos da região em que vivia.

Naquele bar do clube, onde conversava com Camila, Marcos ficou fascinado com sua beleza. Pensando num pretexto para tirá-la daquele ambiente e levá-la para um lugar mais reservado onde poderia seduzi-la. Ele comentou:

__Camila, se você quiser eu te apresento a cidade.

__Quero sim. É até bom que a gente fica se conhecendo melhor.

Marcos levou Camila para conhecer a cidade. Depois de mostrá-la os lugares mais belos de Boa Vista, ele jogou o seu charme e ela acabou caindo em sua sedutora conversa. Eles acabaram ficando juntos nesse dia. Apesar de estar muito afim de Flávia, o rapaz acabou sendo infiel novamente.

Durante a semana que se passou Marcos não procurou Camila. Ele ficou encontrando com Flávia constantemente. Eles estavam num lago que ficava próximo á cidade. Estavam deitados, nus, com os corpos suados e ardentes. Haviam acabado de fazer amor. Ela estava totalmente apaixonada pelo rapaz. Tendo em mente que Marcos o amava, Flávia sentiu que estava na hora de levá-lo até sua casa e apresentá-lo aos pais.

__Marcos, amanhã é sábado, eu vou passar a tarde em sua casa e, então, conheço os seus pais.

__Estarei te esperando amanhã à tarde, meu amor. – disse beijando-a.

Flávia foi para sua casa e começou a se sentir mal. Suspeitou que estava grávida e resolveu fazer um exame. Ela não quis esperar muito tempo e marcou o exame para o dia seguinte. Flávia achou melhor não comentar com o namorado sobre suas suspeitas.

No dia de fazer o exame, Flávia ligou para Marcos:

__Marcos, hoje eu tenho que fazer um exame e não sei se vai dar para ir à sua casa conhecer seus pais, então, vamos deixar para amanhã.

__Tudo bem Flávia, à noite nós nos encontramos em sua casa.

Ele aproveitou que Flávia não ia à sua casa e chamou Camila, que estava muito afim dele, que era um ótimo partido.

Flávia foi fazer o exame de gravidez e deu positivo. Ela se desesperou e foi correndo a casa de Marcos para contar-lhe. Quando chegou a mansão Souza Costa, teve uma infeliz surpresa. Marcos estava beijando Camila. Ela viu aquela cena e saiu correndo, desesperada.

Marcos foi atrás dela para tentar explicar-se:

__Flávia, você tem que me ouvir, eu gosto muito de você, me perdoe!

__Não! Eu não quero mais ver você! Vá embora, me esqueça! - respondeu decepcionada.

Vendo que ela estava muito nervosa, e que não adiantaria tentar se explicar, ele voltou triste para casa e encontrou Camila sentada no sofá. Ela estava muito desconfiada dele.

__Camila, eu sinto que a Flávia tenha nos visto, pois eu gosto muito dela.

Camila não falou nada e foi embora para casa.

Flávia andava pelas ruas da cidade, magoada, triste e sem saber o que fazer. Quando chegou em casa foi direto para o quarto. Ela não conseguiu pregar os olhos durante a noite. Só pensava no que estava acontecendo em sua vida.

O dia amanheceu e Flávia desceu de seu quarto para tomar café. Teresa notou que tinha algo de errado acontecendo com a filha e perguntou:

__Minha filha você está com algum problema?

__Não mãe, claro que não!

Uma das empregadas da mansão entrou na sala de jantar onde a família tomava o café e disse:

__Flávia, tem uma pessoa te chamando ali na sala.

Ela foi atender e, quando chegou à sala, viu que era o Marcos que estava muito triste com o que havia acontecido:

__Flávia, eu preciso falar com você.

Sentindo grande raiva, ela respondeu:

__Eu não tenho nada para conversar com você. Saia já da minha casa.

__Me escute, eu te adoro meu amor, me perdoe. – insistiu.

__Marcos, é só virar as costas e você leva outra para dentro da sua casa? Eu não quero te ver nunca mais na minha frente. Saia de minha casa e não me procure nunca mais!

Vendo que ainda não era o momento de tentar se explicar e tentar reatar o namoro, Marcos foi embora. Flávia foi para o seu quarto emocionada, indagando para si mesma. “ Por que você fez isso comigo, Marcos?"

Flávia começou a sentir-se mal e Teresa, "sua mãe" entrou em seu quarto e surpreendeu-se ao vê-la pálida. Muito preocupada, Teresa resolveu levá-la ao hospital. Sabendo que a mãe poderia descobrir sobre sua gravidez, ela disse:

__Mãe, por favor, eu estou me sentindo bem, não precisa levar-me para lugar nenhum.

__Vamos para o hospital, minha filha, você está precisando!

__Não, não, mãe! Eu não quero ir a hospital nenhum.

Como era uma mulher que quando colocava algo na cabeça executava, Teresa levou-a ao hospital. Flávia não conseguiu esconder a grande tensão que sentia durante a consulta. O médico, examinado-a, sabia que se tratava de uma gravidez. Após se certificar que a paciente estava mesmo esperando um bebê, ele saiu do consultório e disse à Teresa:

__Minha senhora, sua filha está grávida.

Por ser uma mulher que se preocupava apenas com as aparências, Teresa ficou muito constrangida. Não aceitava a idéia de ser avó naquelas circunstâncias porque nem tinha tomado conhecimento de que a filha estava namorando. Ela entrou no quarto em que Flávia estava e disse com ódio no olhar:

__Eu sabia que você estava me escondendo alguma coisa, minha filha. Eu nunca esperava isso de você. Você sempre teve tudo do bom e do melhor! Nem namorado você tem! Eu quero que você tire essa criança! Você vai tirar este bebê agora! - ameaçou.

Escandalizada com a terrível ameaça da mãe e, com os olhos escorrendo lágrimas, ela respondeu:

__Mãe, eu não vou fazer isso!

__Vai sim, por que isso é uma vergonha minha filha! Se o seu pai descobre ele te mata. Você já sabe como ele é! Isso vai acabar com a reputação da nossa família.

__Mãe, a senhora nem me perguntou quem é o pai desta criança! - queixou-se.

__Eu não quero nem saber. Você vai ter que fazer um aborto.

__Mãe, nem o Marcos sabe que estou grávida, nós estamos brigados e eu vou ter este filho sim!

Teresa exclamou:

__Mas como brigados, sendo que nossa família nem o conhece?

Teresa se calou por instantes e depois olhou para a filha e disse:

__Escute Flávia, você pode até ter esse filho, mas o seu pai não poderá saber, nem este tal de Marcos. Você vai terminar essa maldita gestação longe daqui e, quando este bebê nascer, você vai dá-lo para outra família criar.

A cada palavra que saia da boca da mãe, Flávia chorava. Ela lamentava ouvir aquelas palavras, lamentava ter conhecido Marcos e lamentava viver aquela situação.

Teresa continuou:

__E quanto ao crescimento de sua barriga, não se preocupe. Vou falar com o seu pai que você vai fazer uma longa viagem à Europa. E lá você vai terminar a sua gestação.

Flávia, inconformada, exclamou:

__Mas mãe, como vou dar para outra pessoa o meu próprio filho, o seu neto? Eu não vou fazer isso!

__Se você quiser terminar essa gravidez, vai ter que dar o seu filho para outra família criar, se não vai tirar esta criança agora mesmo. Você quer que eu mande o médico tirar este maldito bebê de dentro de você agora? - ameaçou Teresa.

__Não, mãe. Como é que vou ficar esse tempo todo sem que meu pai me veja? Ele não vai agüentar ficar sem me ver por tanto tempo.

__Quanto a isto não se preocupe, também nem é tanto tempo assim. Só faltam seis meses para que esse bebê nasça, e você precisará só de mais um tempinho para que o seu corpo volte ao normal.

Flávia, sem escolha, aceitou a proposta de sua mãe e, logo depois, elas voltaram para casa. Quando anoiteceu, Teresa caminhou até a sala de estar onde José lia seu jornal intencionado em colocar o plano em prática, em mentir para seu marido, porque só pensava em tirar Flávia da cidade para que ele não soubesse o que estava acontecendo.

__José, a nossa filha está querendo ir fazer um passeio na Europa e eu acho que ela está merecendo.

__Ela pediu para fazer esta viagem a você? Quando ela quer fazer um pedido destes ela sempre conversa comigo primeiro. – comentou estranhando.

__Você não sabe o que se passa na cabeça das mulheres. Principalmente a jovens que precisam se encontrarem, como é o caso da nossa filha.

__Eu acho até bom que a nossa filha passe uns tempos fora. Uma viagem desta fará com que ela fique mais madura. Eu vou conversar com ela.

José subiu para o quarto de Flávia e perguntou o motivo da viagem.

__Estou precisando dar um tempo deste lugar. - respondeu disfarçando a tristeza.

__Tudo bem minha filha, já que você quer ir... – concordou.

O dia amanheceu. Flávia desceu para tomar café com seus pais. Eles conversaram muito. Após a refeição, ela resolveu ir até a casa de Marcos para se despedir. Como estava muito magoada, ela resolveu não contá-lo sobre a gravidez.

Flávia caminhou até a mansão Souza Costa. Lá chegando, ela avistou Marcos e Camila, juntos. Flávia saiu rapidamente da casa do amado que a vendo, foi correndo atrás dela para tentar se explicar:

__Espere, Flávia, eu preciso falar com você!

Ela parou e disse:

__Marcos. Eu só vim até aqui para dizer que estou indo para a Europa. - mentiu, com a intenção de esconder-lhe a gravidez.

Inconformado, ele perguntou:

__Mas por que, Flávia?

__Eu estou precisando me afastar deste lugar. – respondeu emocionada.

Marcos, também emocionado, disse:

__Flávia, eu queria que você me perdoasse pelo que fiz. Eu te adoro, eu te amo, fique, por favor, não vá embora. – insistiu.

__Não dá, Marcos. Agora eu tenho que ir. E vejo que você já esta bem acompanhado, não é mesmo? - exclamou.

A jovem saiu andando, chorando, e escutou Marcos dizendo:

__Flávia, eu nunca vou te esquecer!

Ela continuou andando e se lembrando dos bons momentos que teve com Marcos, pensando na sua gravidez e no que estava acontecendo em sua vida. Marcos voltou para casa muito triste e disse a Camila:

__Depois conversamos, eu preciso ficar sozinho.

Camila foi embora e o rapaz ficou ligando para a casa de Flávia. Ele queria insistir para que ela não fosse embora, para que eles ficassem juntos, porque não gostava de Camila como gostava dela. Os empregados da casa de Flávia diziam que ela não estava.

Chegou o dia em que Flávia partia da cidade. Ela estava muito triste na hora em que despediu-se do pai. Chateada com a posição que Teresa tomava com sua gravidez, ela partiu com a mãe. Flávia aceitou a proposta da mãe porque tinha esperanças que quando o filho nascesse, sua mãe cairia de amores pelo neto e ela poderia dizer a verdade a Marcos.

Camila aproveitou o que tinha acontecido para se aproximar de Marcos.

Flávia e Teresa chegaram em Itamboa, uma cidadezinha no interior de Minas Gerais. Teresa alugou uma casa para que ela e sua filha morassem. Em Boa Vista, Marcos e Camila começaram a namorar. Ele estava com Camila, mas não conseguia esquecer Flávia.

Seis meses depois, nasceu o filho de Flávia. Ela e sua mãe partiram para o hospital. Flávia deu a luz a um menino. Ela estava inconformada com a atitude de Teresa, que não mudou a postura com o nascimento do neto. Desde o início, ela contava os dias para que o bebê nascesse para que Flávia desse o filho para outra família criar.

Vendo que a mãe não mudou de opinião em relação ao neto, Flávia viu que perderia o filho. Ela se achava inexperiente e temia bater de frente com os pais para cuidar do bebê, pois pensava que o pai concordaria com Teresa, e decidiu fazer o que a mãe lhe ordenava.

Flávia observou seu filho durante toda a noite. Olhava-o e pensava em Marcos. O dia amanheceu. Teresa olhou a filha e o neto e disse:

__Vamos minha filha, está na hora de irmos embora!

Elas entraram no carro e seguiram pela estrada, até avistarem uma casa. Teresa friamente disse:

__Flávia, agora é com você.

Flávia, inconformada, deu um beijo no filho e colocou-o num cesto, deixando-o na porta de uma casa. Ela e sua mãe voltaram ao carro e partiram, Flávia com destino à Paris e Teresa de volta à Boa Vista.

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